A mente humana poder-se-á considerar como um simples teatro em que, cada um pode decidir o lugar que pretende ocupar.
Talvez na mera assistência existencial tenhamos o impulso de nos fixar como o simples espectador, ou mais simplesmente como a camareira que doces vende… contudo, à medida que o Ser reconhece a sua validade e valorização, adentrando-se pelo maior significado que é a sua existência, passa a verificar que pode desempenhar papéis de extremo destaque e relevância.
Um lugar em palco será, talvez, o primeiro grande passo consciencial para garantir a soberania da mente sobre o corpo. Contudo, nem sempre é simples retomar o verdadeiro poder em mãos, tornar-se consciente das suas capacidades e fazê-las trabalhar a seu favor.
Isto dá-se pois o Ser identifica-se, primariamente, com a sua mente consciente, ou seja, a mente que apenas representa cerca de 5% do cérebro e confere as capacidades de lógica, raciocínio e criatividade. A mente subconsciente, os outros 95%, contém e faz a gestão dos comportamentos, memórias, pensamentos, sentimentos, atitudes e crenças. O que basicamente representa todos os hábitos e programas que o Ser carrega em Si.
Esses programas estratificam-se em três níveis, sendo o primeiro o da natureza humana, onde se inserem programas universais e biológicos. O segundo nível é o da própria cultura onde o Ser se insere, ou seja, programas a um nível grupal e aprendidos. O terceiro nível, ao qual existe um maior apego, é o da personalidade que, embora sendo individual, não deixa de ser herdada, aprendida e sobretudo construída.
São todos estes condicionalismos que nos remetem ao banco do espectador, construindo um sem fim de véus que toldam a visão do palco mais nobre.
Numa desmistificação clara do processo criativo da vida há que entender que a cada experiência que passa, a única retenção são as percepções que existem da mesma. Só e apenas a partir da percepção e a forma como é encarada surgem emoções, que por sua vez geram sentimentos, que dão origem a crenças, que se tornam convicções, sobre as quais a personalidade é edificada.
A partir do ponto em que se estabelece a personalidade, com todos os seus traços e características, inicia-se o processo interdependente de geração de novas experiências, com novas percepções, que conduzem ao fortalecimento de um conceito de eu ou personalidade que limita as mais altas aspirações do ser.
É a partir da personalidade que tudo é visto, tido e considerado. Para se conseguir desconstruir toda esta teia, que fora de palco nos deixa, há que ter em consideração apenas as percepções… Como se percebe e o que se percebe.
É neste processo que o Ser consegue desenvolver a sua mestria e recuperar todo o seu poder. Pois se estiver no controlo da forma como “se entende e entende o seu redor”, seguramente alcançará as rédeas do destino nas suas mãos.
É com essa segurança que, para além de personagem principal no teatro da mente, o Ser consegue alcançar o papel de director e realizador. Concretizando o feito de uma vida harmoniosa e auspiciosa.
Trata-se de um processo interno, de descoberta profunda, para se libertar de tudo o que o induz a um caminho mais tortuoso… mas… como diria Pessoa: “Deus ao mar o perigo e abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.”