Que será o nevoeiro senão um véu que oculta uma visão mais expandida ou tolda o entendimento do ser?
Uma densidade por gotas formada que afoga o olhar mais atento, deixando o cenário nublado e vilipendiado pelo sinal do projetor.
Tal como o cinturão de Van Allen, assim será o nevoeiro uma barreira de restrição do potencial. Uma muralha que oculta a expansão, apenas prometendo perigos a quem dela se aproxima e espreita.
Estará então o ser bloqueado por quaisquer névoas que o impeçam de atingir a sua verdadeira magnificência?
Talvez se encontre como uma magnífica nave espacial, embora limitada à velocidade citadina. Ou rodeado de neblina, tal como palas num puro sangue.
Um visão restringida, que incita à via dos bloqueios. Uma cultura do medo em que o entendimento foi removido e se lhe apresentam falsos guias, que levam o ser a realizar o que lhe é imposto, com uma visão limitativa da vida. O ser embarca em projetos escravizantes, em que alguma claridade lhe é prometida, dependente da sua entrega e penitência.
De realçar que, sendo a visão o órgão preponderante na recolha de perceções externas, tudo o que não se consegue ver teme-se. Gera-se consequentemente uma sensação de perigo, em tudo semelhante à biologia do medo, em que o ser passa a focar a sua atenção apenas no mais primário do seu cérebro. Neste clima de opressão, torna-se, cada vez mais um ser androide, submisso, prestando vassalagem através da execução das mais básicas das suas funções, não permitindo a expansão das restantes mais elevadas.
A recuperação da sua visão, livre dos limites impostos pela turva densidade, passará pela deteção e identificação das causas que originaram a sua cegueira. Pela constatação e perceção das limitações que tem a enfrentar.
Não é um trabalho oneroso, não custa esta identificação. Trata-se apenas da opção pelo tom da pílula que o ser pretende tomar. Com a escolha acertada ser-lhe-á mostrado um caminho empoderador da des ilusão. Acompanhado do trabalho interior, desmistificará velhos paradigmas, capacitando-se de novas realidades, chegando mesmo a recordar exotismos de memórias distantes em que a visão era plenamente desafogada.
Deixando de se sentir como uma criança fechada num quarto escuro, o seu universo não conspirará mais contra si (como nunca o fez), tornando-se um conspirador a seu favor.
Tal como o ancião monge, continuará a cortar madeira e a carregar sua água, não mais à sua cela confinado, disfrutando de uma inebriante natureza com um amplo campo de visão.