Na dita história reconhecida da humanidade poucos foram aqueles que se ergueram acima do véu do esquecimento e ficaram registados nos anais como iluminados. Foram esses que conseguiram ultrapassar o que os prendia e os fazia agir como meros ocupantes de uma sociedade, desde sempre padronizada, revelando-se como mestres ou gurus.
O ser assume-se programado desde a sua tenra idade, em que dos dois aos seis anos, experiência uma vivência a nível das ondas cerebrais Theta. Aqui, pela adaptação ao ambiente, começa a duplicar padrões comportamentais e de crenças dos que lhe são próximos, não discernindo moral ou emocionalmente o valor das mesmas. Tão pouco discernindo intelectualmente qualquer avaliação negativa que lhe seja feita.
É neste estágio de programação que são incutidos os chamados temores universais da separação, abandono, baixa auto estima e falta de confiança. Por pouco que sejam entendidos, no momento, existe um poder esmagador desta programação que poderá acompanhar o ser até ao seu último suspiro, transformando um potencial magnífico de existência num arrastar pesaroso diário.
Pelo desenrolar da vida o ser depara-se diariamente com múltiplas normas de manipulação e programação que, sem se aperceber, insistirão na robotização da sua experiência. Desde os instintos de competição da criança mais forte ou ágil, passando pela fama e destaque pretendidos na adolescência, o trabalho de luxo que permite ter mais que os outros na média idade, até à final rigidez de ideias e comportamentos da idade mais avançada.
Tudo isto sempre ao toque clínico de meios de influência externos com o poder de transformar o um em apenas mais um!
Simples de verificar, à luz de sentimentos de superioridade e inferioridade, das relações interpessoais verticais ou horizontais, ou mesmo na conexão entre o ser e as suas diferentes comunidades.
Ao olhar mais atento verifica-se a caída num estado de normose em que, mesmo que existam padrões comportamentais desviativos… é sempre normal! Tudo é normal, todos o fazem, pois tudo está habitualmente bem robotizado.
Na análise dos hábitos de um ser há que entender a origem dos mesmos. Residem no profundo do subconsciente representando uma série de ações / pensamentos repetitivos que cristalizam como hábito.
A cada perceção de um evento geram-se emoções que se transmutam em reações, gerando comportamentos que finalizam no hábito. Qualquer hábito adquirido incidirá diretamente na criação de novas experiências.
Fantástico todo este processo se iniciar com apenas as perceções. Sendo que todas as perceções do ser implicam um elevado caráter de subjetividade. O certo de um é o errado de outro.
Não será então o que vemos, mas sim a forma como percebemos e consequentemente reagimos, que influencia todo o nosso ser. Fazendo a diferença de interpretação máxima entre uma mágoa e um milagre na perceção de uma experiência.
Existem inúmeras formas terapêuticas que podem auxiliar o ser a alterar a sua programação e a sua perceção, mas o verdadeiro trabalho é sempre o seu, interior. Conseguem-se fornecer chaves, desimpedir caminhos, iluminar estradas, mas o condutor é o máximo responsável pela forma como conduz e pelo empenho que à tarefa dedica.
O rompimento com padrões obsoletos é a meta desse trabalho interno, já que toda essa programação apenas oculta o verdadeiro potencial em si. O ser nasce magnífico e é magnífico.
Apelo à imaginação para sentires cada momento do passado como um casaco sobreposto por cima dos ombros, entre ti e a tua magnificência. Quantos são? Que peso representam?
São essas as vestes da padronização das tuas percepções, de tudo o que está bloqueado e fechado, prontas apenas por um sinal teu para começarem a ser despidas. Cada uma retirada aproximará mais a magnificência e realidade da tua essência … ALEGRIA!
Não é um trabalho inglório, é um trabalho de despertar, de relembrar a verdadeira luminosidade existente, separada apenas por esses véus.
Tal como uma árvore necessita de um bom tronco para poder suster os galhos que darão origem a seus frutos, o ser necessita de valores que desdobrem os seus dons para frutificar nas suas realizações.
Foi esse o trabalho que os mestres fizeram, foi esse o percurso que traçaram, lembrando sempre, a todos, que cada um é o seu próprio guru. Livre de manipulações e programações se assim bem o desejar.
O trabalho é simples, porém complexo ou complexo na sua simplicidade. No entanto é na descoberta da essência, livre de robotizações, que a existência ganha todo o seu propósito e sentido.
É nesse ponto que o ser desperta para tudo o que sempre existiu e lá esteve. Que se compadece como seu entorno e começa a iluminar o que o circunda. Livre, desapegado, não sendo só mais um, mas um. Livre de ser um robô.
Jorge Balsa