Será um deserto um sinónimo de carência? Ou meramente uma expressão de aridez que, tal como à superfície da Terra, também se encontra presente no interior do ser?
A comum ideia de deserto tem agregadas as noções de escassez, privação e infertilidade.
Ao examinar o globo encontraremos algumas zonas de referência que assinalam desertos amplamente reconhecidos. De entre as quais surgem áreas que tiveram um papel preponderante, nos anais da nova história registados.
Porque razão terá o alegado berço da atual civilização ficado envolvido pelo deserto? Ou noutros confins, haverá algo mais, que possamos não conhecer, repousando em desertos de água petrificada?
Se as mais comuns representações de florescimento ancestral encontraram o seu fim no descampado, não será sinónimo evidente que uma qualquer transição não conseguiram alcançar?
Na recolha de analogias, pela história, será fácil reparar que qualquer ser, que se tenha destacado pela elevação, passou seu período de deambulação pelo deserto. Foi nesse estágio que conseguiu, pela pressão, o carbono em diamante transformar.
Poderão ser os desertos da vida, então, o banho de imersão nas areias do subconsciente, tendo em vista a lapidação do diamante da existência?
Se assim for, esse mergulho constitui o maior empreendimento levado a cabo pela mente inquisitiva do devoto buscador. Tal como um profeta que submerge ao encontro das origens da sua secura, para saciado emergir, embebido nos néctares da sabedoria.
Porém, se ao fim da sua demanda não se conseguir aproximar, permanecerá como mais uma pirâmide desconectada, perdida na imensidão do vago. Será não mais que um simples triângulo inacabado.
Mas que processo, em tal caso, deverá o ser empreender?
Que volta possível dar, se no seu vazio entendimento a causa não intelige, para tamanha solidão?
Tal como uma pirâmide é uma máquina transmutadora que incita à reiniciação do ser, assim este deve encontrar seu vértice perdido que o leve à completude triangular.
Se no exterior observarmos, o complexo de pirâmides talvez tenha sido, e ainda seja, o maior fenómeno verificado à escala global. Desde as Grandes do Egito às Maias do Iucatão, espalham-se por todo o conhecido, estando presentes em abundância em todos os continentes, na maioria dos países, embora em segredadas localizações. Quantas não jazerão, também, em desertos de terra ou de água ocultadas? Todas elas carregando uma maestria e antiquicidade únicas.
Serão estas as cápsulas do tempo, deixadas desde tempos imemoriais, por ancestrais educadores, para permitir ao ser uma mais clara visão?
Se assim o forem encontrará o ser, no seu profundo, o auxílio equivalente. Através da imersão na travessia do seu deserto interior, será transcendido o conceito puramente material. Passando as meras questões sensoriais e exorcizando as serpentes interiores, o ser recuperará sua intuição, em conexão com a sua voz interior.
Nessa situação, suplantada a aridez e a carência no encontro com o oásis impulsionador da vida, assistirá ao desabrochar de uma perfeita rosa, no seio de uma dourada pirâmide consciencial.
Se as ancestrais ou seguidoras civilizações tivessem conseguido emergir e alcançar esse estágio de transição, provavelmente estaríamos, neste momento, a experienciar uma existência digna do melhor filme de ficção científica. O mundo já seria uma realidade assumidamente multidimensional, aceite como parte integrante de uma confederação de multiversos.
A consciência, livre de prisões, permitiria a replicação de todo o necessário à vivência. Os seres, desprovidos de interesse, à luz das suas capacidades latentes plenamente desenvolvidas, contribuiriam e encontrariam a sua recompensa num coletivo de iguais.
Todos a se escutarem, todos a se sentirem como se de um único coração a bater se tratasse, caminhando com um único fito, o de aproximação à sua origem.
Não estando expressa esta realidade, pelo menos ao olhar de um comum, é da responsabilidade de cada um a senda pelo seu deserto, até ao encontro e expansão do oásis do seu interior. Alcançando o fluir das águas da vida para cultivar e espalhar a fertilidade em todo o seu redor.