Será o arrependimento um estado de arrepanhar letárgico, em que o ser se encontra pendente, à mercê de uma prolongada lamentação crítica?
Se numa ligeira paródia entrarmos com a inglesa palavra “regret” e lhe acrescentarmos a génese, o um do “a”, descobriríamos a palavra “regreat”, como um tornar novamente grande.
Será então o arrependimento a percepção de um estágio de vivência que permitirá ao ser reencontrar a sua grandeza num estado de mais ampla consciência, em reconhecimento a um “mal”, ao seu olhar, cometido?
Sendo que o contraste dos opostos é característica da vivência quadridimensional, assim é a visão de “mal” característica inerente e íntima de cada ser. Cada um considera, à luz das suas vivências, este conceito orientador.
Se a cada ser consciente inquiridas fossem as suas noções, obteríamos uma diversidade de respostas tão numerosa quanto os que existem.
Então, será que este recurso penitencial não passa de uma sentença interna, apenas com base nos individuais juízos de valor? Um processo interno, devastador, em que o ser sucumbe à mercê do seu mental, tornando-se acusador, réu e juiz numa execução sumária que a estima e primor lhe retira.
A permanência no estado de remorso poderá implicar graves consequências. O ser acometido por tal dor poderá chegar a encontrar-se num ciclo vicioso de autocomiseração, que ébrio o deixa, arranhando as paredes do seu cativeiro numa tentativa de fuga à realidade, para apenas mais fundo se adentrar no poço da inconsciência da sua ignorância.
As manifestações físicas de pesar são evidentes no seu surgimento. O aperto no peito, a dor no coração e a dificuldade de respirar são comuns a este estado de padecimento. O ser sente-se oprimido, não consegue desenvolver o seu amor, nem consegue dar lugar ao novo, pela carga enclausurada que transporta.
O quadro puro de lamentação é causa e contributo para maior dor, já que o ser se vê preso numa tentativa de regresso ao passado, para resgate infrutífero da origem da consequência da sua lição.
Se o tempo tudo cura, sendo o tempo não mais que consciência; e se em vez de no cadafalso se colocar o ser empreendesse, pela busca interior, a diligência pelo estado onde se vê? Não encontraria aí as profundas razões que o tornaram seu carrasco? Não compreenderia, o ser, a importância da experiência obtida em prol da sua evolução? Não recuperaria e expandiria a sua consciência?
Se ao se seguir por uma via um obstáculo for encontrado e desatentamente nele perigarmos, será, por certo, motivo, em consciência, de uma próxima ser contornado.
A experiência dará uma orientação clara e inequívoca de próximas adversidades a evitar. Contudo, para o reconhecimento e tribulações a consciência deverá permanecer atenta, não se deixando seduzir pelos subtis ardis ou tentações do lado escuro do ser.
Tal como um pavio que inflamar se deixa, para em luz poder devir, assim o ser deverá permitir a ignição do seu sol interior, realizando a purificação pelo seu íntimo fogo. Quanto mais a sua chama permitir brilhar, mais despojado de resistências ficará, pela transmutação dos seus pesados metais em ouro.
Então aí, quando a teoria migra para a prática manifesta conquistando a escuridão, pela inspiração, saltará o ser o interno criticismo, para se colocar numa posição de candeia a alumiar não só o seu como os trilhos de outros.
Nesse momento verá que a sua contrição, agora em ensinamento tornado, deu causa à sua elevação e ao encontro de uma grandeza maior. Responsabilizando-se por todas as suas ações, honrando-as como o seu caminho, com a alegria da perseverança.